quarta-feira, 6 de maio de 2020

A teimosia dos "espíritas" tradicionais

Fica aqui a impressão de que nosso trabalho de coerência doutrinária é em vão. mesmo com alto nível de apostasia, há seguidores de Chico Xavier e Divaldo Franco que fecham olhos e ouvidos para as denúncias sérias e com provas sobre a vigarice desses dois falsos profetas. Mas se tratando de religião, as provas não interessam. Vale o que traz conforto, por mais absurdo que pareça.

Há uma clara teimosia em muitos seguidores de Chico e Divaldo em continuar acreditando nas mentiras de ambos, graças a sua beleza e a estereótipos de bondade que complementam o falso mito de que os dois eram filantropos incansáveis. Filantropos que ajudaram pouquíssimo e não conseguiram eliminar as injustiças nos meios em que atuaram. Além de terem apoiado políticas gananciosas e sádicas, vendo nelas a "construção de um reino de amor".

Ficamos tristes com isso, pois vemos todo o esforço de Allan Kardec jogado na lata de lixo e queimado pelo "fogo santo" de Chico Xavier e Divaldo Franco. Tido como "ultrapassado", o cientificismo moderno de Kardec foi trocado pelo igrejismo medieval de Xavier e Franco.

Na cabeça dos ingênuos seguidores destes falsos profetas, isso é possível só porque o "Espiritismo" criado por estes dois farsante veio depois. Quem disse que o que vem depois é sempre melhor do que existiu antes? Ainda mais que Xavier e Franco foram (des)educados pelo Catolicismo medieval, predominante em suas juventudes e base para o festival de enxertos que colocaram na doutrina!

Mas o prestígio destes dois falsos profetas é muito alto. A falta de análise de suas obras, nunca analisadas totalmente, já que ambos somente divulgados, de forma malandra, através de frases soltas nas redes sociais. Uma tática muito utilizada pelos neo-pentecostais ( e estranhamente criticada pelos "espíritas"), que querem que você leia apenas os pontos recomendados pelas lideranças, para que partes mais comprometedoras das obras não sejam lidas.

Limitados a frases soltas de conteúdo agradável, fica fácil se render a esses falsos profetas, escribas modernos a enganar mentes frágeis com suas palavras cheias de beleza e coerentes com o retrógrado moralismo cristão de 2000 anos atrás. Aliás, interessante ver cristãos querem resolver os problemas de hoje com as soluções de dois mil anos atrás...

Chico Xavier e Divaldo Franco, apesar de serem os maiores símbolos daquilo que os brasileiros conhecem como "Espiritismo", nada tem a ver com a doutrina original e suas mensagens são carregadas de um conservadorismo pútrido, nojento, gosmento, carcomido. Totalmente incapaz de oferecer uma solução real para os problemas cotidianos dos tempos atuais.

Apegar a estes dois farsantes é viver na ilusão, é querer uma espécie de "orgia" espiritual, um prazer estranho por palavras lindas e estereótipos de bondade que nunca resolveram nada. Chico e Divaldo são dois lobos muito famintos, felizes em saber que ainda existem ovelhas prontas para sem devoradas em seu banquete espiritual. 

Acordem, deixemos de ser ovelhas!

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Racionalidade do "Espiritismo" brasileiro é somente isca para atrair ingênuos

É difundido com insistência o mito de que o "Espiritismo" brasileiro é uma religião racional, cujos dogmas são baseados na ciência, sendo todos verificados através de análises e pesquisas. 

Balela! O caráter absurdo e falacioso de muitos dogmas prova que na verdade a ciência só serve para legitimar tais dogmas e dar um diferencial para pessoas que pensam que são racionais (geralmente elitistas que acham, que "sabem tudo") aderirem a esta seita.

Na verdade, o caráter científico apresentado pelo "Espiritismo" brasileiro - que era verdadeiro apenas na versão original de Allan Kardec - é apenas uma isca para pescar ingênuos que sonham com uma religião racional, o que é impossível. 

Não dá para fundir fé e lógica. O mito de "fé raciocinada" é uma tolice a enganar otários. Ou se acredita, ou se verifica. Como assinar embaixo em uma tese que desafia a lógica, vendo algum tipo de racionalidade nela?

O caráter científico dos dogmas "espíritas" é apenas uma questão de fé. Como questionar e verificar exige esforço e desafia convicções consideradas positivas, sobretudo as de origem moralista, fiéis do "Espiritismo" preferem aceitar os dogmas sem questionar, acreditando que alguma liderança - como os "médiuns", sacerdotes da doutrina - já havia questionado e verificado antes.

Acreditando que tais dogmas já foram pré-verificados - a pré-verificação seria a tal "fé raciocinada" - as pessoas reconheceriam nos dogmas "espíritas" a revelação de fatos reais incontestáveis, por mais absurdos que fosse, pois já foi verificado pela racionalidade. Isso é o que faz o "Espiritismo" parecer "diferente" das outras crenças, diante de quem procura uma crença com base supostamente mais sólida.

Mas analisando friamente é inevitável não reconhecer o absurdo de vários dogmas, muitos contraditórios, o que permite que certos conceitos opostos possam conviver dentro do "Espiritismo" brasileiro. O que na prática significa que os "espíritas" estão sendo enganados, de forma diferente dos fiéis de outras crenças, mas na mesma intensidade de engano.

Um conselho aos "espíritas": não confiem totalmente nos conceitos prontos oferecidos. Querem ser racionais, sejam vocês mesmos. Líderes religiosos são humanos e têm interesses a serem satisfeitos e necessitam de muita gente para isso.

"Espíritas", raciocinem, questionem, desmontem mitos e ídolos, descartem Bezerras, Chicos e Divaldos, retomem a racionalidade kardeciana confrontando dados e verificando sempre o que é dito. Quem tem que dizer "amém" a tudo são os neo-pentecostais. 

Se "espíritas" aceitam tudo o que é dito, é porque não há racionalidade. A ciência e a racionalidade são apenas iscas a atrair ingênuos. Pois dentro dos ambientes "espíritas" a coisa é bem diferente, com a fé cega no comando de tudo.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

"Espiritismo" brasileiro deveria assumir seu rompimento com Allan Kardec e se fundir com a LBV

Imagine alguém que se assume uma coisa, mas na prática segue outra totalmente diferente. Não dá para confiar nela de fato, não é? O "Espiritismo" brasileiro é algo assim, pois sempre se assumiu "seguidora de Allan Kardec" fazendo algo bem diferente, não raramente oposto ao que o professor francês fez. Na prática, o "Espiritismo" brasileiro se parece mais com a LBV, de quem tem admiração recíproca.

A LBV é uma entidade supostamente filantrópica de caráter ecumênico. Mas tem uma simpatia - respondida com reciprocidade - ainda maior pelo deturpado "espiritismo" brasileiro, que segue orientação de Jean Baptiste Roustaing. Há quem acredite que Alziro Zarur, fundador da LBV, era a reencarnação de Roustaing, embora nossa equipe prefira acreditar que Chico Xavier é que teria sido a reencarnação do advogado de Bordéus.

O próprio "Espiritismo" brasileiro também sonha com seu caráter ecumênico, algo não previsto pelo racional Espiritismo original. Ecumenismo significa bagunça, indefinição e a opção de não seguir um caminho definido tem sido as raízes de muitas contradições que tem implodido o "Espiritismo", resultando em uma doutrina confusa que não sabe o que dizer.

Melhor seria que os líderes do "Espiritismo" brasileiro declarassem o divórcio definitivo de Allan Kardec, ideólogo que "espíritas" brasileiros nunca seguiram de fato e fundir com a LBV, com quem tem uma maior afinidade ideológica. Seria muito mais honesto.

Além da honestidade doutrinária de assumir um pensamento que segue na prática, a fusão com a LBV pouparia de espíritas verdadeiros fazerem críticas, que são injustamente confundidas como "intolerância", já que é natural para os deturpadores que as confusões doutrinárias sejam aceitas de forma alegre e pacífica.

Fica aqui a nossa sugestão para os "espíritas" brasileiros: se fundir com a LBV e esquecer o nome espírita, na verdade uma patente kardeciana que a FeB tomou de forma delituosa. Fundir com a LBV significa assumir posturas e garantir uma honestidade hoje ausente no "Espiritismo" brasileiro, uma doutrina que diz uma coisa fazendo outra.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Por que não há motivo para o "espiritismo" sofrer intolerância religiosa?

IMPRENSA SENSACIONALISTA COSTUMA CONFUNDIR UMBANDA COM "ESPIRITISMO" (NOTEM A EXPRESSÃO "MÃE DE SANTO"). A CONFUSÃO, QUE ANTES IRRITAVA OS "ESPÍRITAS", HOJE É SUA "TÁBUA DE SALVAÇÃO".

O "espiritismo" brasileiro, em crise, adotou uma estratégia insólita. Depois de décadas tentando se livrar das confusões com o umbandismo, a doutrina que deturpou o legado de Allan Kardec em prol de um sub-catolicismo de moldes medievais agora mudou de ideia e passou a gostar da confusão com as religiões afro-brasileiras devido às circunstâncias infelizes por estas sofridas.

Hoje a imprensa sensacionalista, considerada de baixíssima qualidade e que normalmente subestima a inteligência de seu público (que, apesar de sua baixa escolaridade, não é burro e deveria ser tratado com mais respeito pela mídia "popular"), anda creditando como "centros espíritas" os terreiros de umbanda e candomblé que estão sendo vítimas de ataques de intolerância religiosa, sobretudo de parte de seitas neopentecostais, que não aceitam conviver junto a essas expressões religiosas.

O que se vê, depois da retomada ultraconservadora no Brasil, após a queda da presidenta Dilma Rousseff, é a liberação dos mais profundos e perversos preconceitos sociais. A catarse de uma parcela da sociedade brasileira permite práticas que vão desde o cyberbullying até o fanatismo religioso, aumentando casos de pistolagem e feminicídios e mostrando a sordidez moral que está por trás até mesmo de pessoas consideradas "de bem" e "melhor instruídas".

Hoje vemos empresas consideradas de grande importância para o público consumidor, associadas a fatos infelizes como propagandas que aludem a ideias machistas e racistas ou a práticas escravistas no mercado de trabalho. Marcas como Dove, McDonalds, Riachuelo, Volkswagen, O Boticário, Marisa e outras se envolveram em episódios infelizes de propagandas socialmente preconceituosas e acusações de promover trabalho análogo à escravidão (a chamada "escravidão moderna").

O que vemos é a chamada luta de classes e o escancaramento das neuroses e outros defeitos da chamada sociedade privilegiada. O "alto da pirâmide" está mostrando a sua podridão e os defeitos que se acumularam sobretudo desde o auge da ditadura militar, o ano de 1974, que criou um "padrão ideal" de comportamento e valores sociais que nos últimos anos se encontram em declínio.

As neuroses chegam a atingir níveis surreais, criando medos inimagináveis em setores "importantes" da sociedade. Com tantas personalidades valiosas morrendo prematuramente, há um medo tão grande de ver feminicidas impunes idosos morrendo que, se eles realmente morrem, a imprensa não noticia, mesmo se seus crimes tivessem "parado o país". Mas não se pode dizer sequer que eles estão muito doentes, mesmo tendo eles contribuído para isso no decorrer da vida.

Mas a sociedade tem até medo de que sistemas de transporte por ônibus cancelem a chamada pintura padronizada - no qual diferentes empresas de ônibus exibem o mesmo visual, enfatizando o logotipo da prefeitura ou do governo estadual - , o que faria com que a liberação da respectiva identidade visual de cada empresa (que facilitaria o cidadão na hora de ir e vir e até para identificar a empresa que presta mau serviço) mandasse certas pessoas para o psicanalista.

São neuroses descomunais, que fazem com que, nas redes sociais, haja ataques racistas em série, em cyberbullying organizado por grupos de internautas, capazes de humilhar negros que difundem mensagens positivas nos seus perfis pessoais. E isso quando o racismo é considerado crime, mas o internauta ignora riscos ao assumir sua truculência virtual, ainda que seja o de ver seu computador ou celular apreendido pela polícia para investigação criminal.

Dito isso, observa-se que o "espiritismo" brasileiro anda "muito feliz" com os últimos tempos. Sua narrativa é conservadora, achando "positiva" a queda de Dilma Rousseff e do PT pela "falta de amor (sic) ao próximo", definindo como "regeneração" as passeatas dos "coxinhas" que defendiam até a intervenção militar e exibiam símbolos nazi-fascistas e apoiando as "reformas" do governo Michel Temer como meios de "moderar" o "materialismo" dos infortunados.

A narrativa dos "espíritas" destoa da realidade que até a imprensa estrangeira consegue tirar de letra. Segundo os "espíritas", foi iniciado um "período de libertação" que anda pontuado de "muitas dificuldades", mas que deve ser encarado "com fé e esperança" diante da aceitação de uma série de restrições que são feitas para "promover a moderação dos instintos humanos", eufemismo para a aceitação das desigualdades sociais que, aos olhos dos conservadores, soam "equilibradas".

O "espiritismo" brasileiro se comprova cada vez mais conservador e cada vez mais afinado com os tempos atuais. Ele, portanto, não tem motivos para se queixar de intolerância religiosa. Comunga com os neopentecostais em muitas causas, como a reprovação do aborto até em casos de estupro e ameaça à saúde e a defesa de projetos educacionais análogos à Escola Sem Partido.

O que está por trás dos apelos dos "espíritas" pela "liberdade religiosa" - um dos assuntos tratados este mês pelo "Correio Espírita" - e "contra a intolerância" é, na verdade, uma interpretação equivocada das circunstâncias. Mesmo o vandalismo que atingiu o mausoléu de Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, foi um ato de intolerância comum, mais uma intolerância a uma pessoa famosa do que a uma figura religiosa.

A intolerância religiosa atinge expressões religiosas ligadas a setores mais pobres da sociedade, como a umbanda ou canbomblé, ou a grupos étnicos diferentes dos padrões ocidentais, como o islamismo. O "espiritismo", apesar de sua roupagem "humilde" e "informal", é uma religião aristocrática, e uma das mais toleradas e blindadas do Brasil, no qual nem seus piores erros são alvos de investigação séria e imparcial, como se o "espiritismo" fosse um PSDB da religião.

O próprio Chico Xavier esteve associado às piores usurpações literárias, das quais se observa irregularidades explícitas de estilo e elementos pessoais. Obras "psicográficas" atribuídas a Olavo Bilac, Auta de Souza e Humberto de Campos fogem drasticamente dos estilos pessoais originais e o caso deste último, escritor que em vida resenhou Parnaso de Além-Túmulo, revelou-se, na verdade, uma porção de atitudes arrivistas e oportunistas promovidas pelo suposto médium mineiro.

Só que, em vez de haver uma investigação séria, temos a seletividade da Justiça. Basta uma mensagem fake dizer "somos todos irmãos" e supostamente promover a paz para que ela seja aceita sem críticas. Cria-se apenas um simulacro de investigação judicial, jornalística ou acadêmica, para que tudo seja aceito em nome das "mensagens de amor" e o resto se usa a desculpa do "mistério da espiritualidade".

O "espiritismo" é protegido até demais. Os "espíritas" fazem o que querem com o legado de Allan Kardec, reduzem a Doutrina Espírita a um igrejismo retrógrado mas querem passar a falsa impressão de que "professam fidelidade absoluta e rigorosa aos postulados espíritas originais". São protegidos até da maior rede de televisão do Brasil, a Rede Globo.

A religião "espírita" é de elite. Os "centros espíritas" são comandados por pessoas de classe média alta, os palestrantes "espíritas" costumam fazer exposições para ricos e acumulam medalhas e condecorações, além de aparecer ao lado de aristocratas em eventos reportados nas colunas sociais. Os valores morais defendidos são arcaicos e têm um forte conteúdo conservador.

Esse conteúdo conservador remete, frequentemente, à Teologia do Sofrimento, doutrina derivada do Catolicismo medieval que faz apologia às desigualdades sociais. Ela pede "misericórdia" aos abusos dos privilegiados ou prepotentes, que "não sabem o que fazem e pagarão pelos atos um dia", enquanto apela para sofredores e desgraçados aceitarem e até amarem seus infortúnios, sob o pretexto de "serem salvos um dia".

A Teologia do Sofrimento, que virou a bandeira do "espiritismo" no Brasil, mais do que os postulados de Kardec, vê o sofrimento de Jesus de Nazaré sob o ponto de vista de seus condenadores. Apesar disso, a ideologia, que teve como adeptos fervorosos Chico Xavier e Madre Teresa de Calcutá, é associada à ideia de "humildade" e "libertação" humanas.

Isso tudo faz do "espiritismo" uma religião até mais tolerada que as seitas neopentecostais, pois estas, apesar do poder que exercem sobretudo no Poder Legislativo - no qual compõem um bloco chamado "bancada da Bíblia" - , ainda são denunciadas por escândalos e irregularidades cometidos, além de muitas de suas posturas reacionárias sofrerem repercussão negativa na sociedade, até mesmo dentro dos próprios evangélicos.

No "espiritismo", há históricos de fraudes literárias, juízos de valor perversos, acúmulos de riqueza com o "dinheiro da caridade", casos de falsidade ideológica relacionadas a pessoas mortas, exploração das tragédias familiares e apologias à desgraça humana, e não há um único questionamento oficial que causasse ampla repercussão na sociedade.

Pelo contrário, quando surge algum questionamento trazido pela mídia alternativa, ela é enquadrada, erroneamente e de forma leviana, a atos de intolerância religiosa, permitindo a chamada "carteirada" na qual os "espíritas" usam do prestígio pessoal em seus meios para apelar "liberdade religiosa" como pretexto para fazerem tudo o que quiserem, jogando a coerência, o bom senso, a lógica, a ética e o respeito humano na lata de lixo.

Não há motivo, portanto, dos "espíritas" sofrerem intolerância religiosa. Mesmo o vandalismo contra o mausoléu de Chico Xavier foi um ato de intolerância social comum. Se o mausoléu fosse, por exemplo, de Tancredo Neves, Carlos Lamarca, Emílio Garrastazu Médici e Hebe Camargo, o vandalismo teria sido rigorosamente o mesmo, com todos os detalhes. 

O fato do vandalismo ter atingido um memorial de um ídolo religioso não garante, em si, que seja ato de intolerância religiosa. Ainda mais em se tratando de uma religião como o "espiritismo", protegida pelos setores da sociedade conservadora que retomou o poder.

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Se o "espiritismo" tivesse liberdade religiosa, voltaria ao Catolicismo


O "espiritismo" brasileiro diz pregar a liberdade religiosa. Mas o próprio "espiritismo" brasileiro, com suas dissimulações, não aprova a sua própria liberdade, na medida em que suas deturpações são antes motivo de vergonha e disfarce do que de orgulho e demonstração.

Isso se comprova porque o "espiritismo" no Brasil se desenvolveu com bases fundamentadas no livro igrejista Os Quatro Evangelhos, de J. B. Roustaing. A obra, supostamente atribuída aos quatro evangelistas (Marcos, Mateus, Lucas e João), foi um dos primeiros documentos de deturpação do legado de Allan Kardec pelo conteúdo abertamente católico, igrejeiro e cheio de mitos e mistificações.

Jean-Baptiste Roustaing foi um advogado de Bordéus que não gostou do cientificismo de Kardec. Ele investiu num livro, aparentemente trazido através de mensagens espirituais enviadas pela médium madame Emilie Collignon, para trazer o que o advogado definiu como "a revelação da Revelação".

Durante anos o "espiritismo" brasileiro se fundamentou nas ideias de Roustaing, com muito entusiasmo. Mas como é de praxe no Brasil, quando se pega lições de valor duvidoso, é que, quando seu mestre é associado a algum escândalo, ele é simplesmente descartado. E assim foi com Roustaing, tal qual, recentemente, foi com Eduardo Cunha na vida política brasileira.

Até supostas mensagens espirituais atribuídas ao médico Adolfo Bezerra de Menezes, que no seu tempo introduziu Roustaing no "movimento espírita", quando presidiu a FEB, alegaram "arrependimento" pelo roustanguismo. Mas quem imaginava que o "arrependimento" era total, observa-se a citação do verbo "kardequizar", uma corruptela do termo "catequizar" que os jesuítas faziam para converter as tribos indígenas ao Catolicismo medieval.

Essa corruptela diz muito ao roustanguismo disfarçado que hoje representa o "espiritismo" brasileiro. E isso com a legitimação de Emmanuel, ele mesmo tendo sido o antigo catequizador colonial, o padre Manuel da Nóbrega, como suposto "filósofo" do "espiritismo" feito no Brasil.

O que vemos hoje é o próprio "espiritismo" acorrentado e preso em suas contradições. É roustanguista na prática, mas tenta dar a impressão de que é "rigorosamente fiel" ao legado kardeciano, rompe com Kardec na prática, cometendo traições grotescas e preocupantes, mas faz questão de se vincular ideologicamente ao pedagogo de Lyon o qual os "espíritas" traem 24 horas por dia, sete dias por semana e 365 dias por ano.

O "espiritismo" não é livre porque quer ser uma coisa e outra na tentativa tanto de obter vantagens e privilégios como de agradar todo mundo. Hoje os "espíritas" falam em liberdade de fé e reforçam o discurso contra a intolerância religiosa, primeiro pegando carona nos episódios envolvendo terreiros de umbanda, depois se aproveitando do vitimismo em torno do vandalismo contra o mausoléu de Francisco Cândido Xavier, ocorrido no final de setembro passado, em Uberaba.

Mas os "espíritas" não são livres. Eles ficam presos nas suas próprias paixões. São católicos fervorosos, mas não podem assumir isso, porque precisam se promover com a fingida "fidelidade absoluta" ao pensamento de Allan Kardec, algo que sabemos ser uma grande e preocupante mentira.

É só ver, nas atividades "espíritas", o contraste que livros de Chico Xavier, Divaldo Franco e derivados apresentam, em ideias, à obra de Kardec. É coisa gritante. Consultando obras como O Livro dos Médiuns e O Livro dos Espíritos, por exemplo, observa-se a descrição de muitos aspectos negativos da deturpação espírita analisados por Kardec. Esses aspectos correspondem, hoje, ao que Chico, Divaldo e companhia fizeram, de forma explícita e deplorável.

Criticar a deturpação não é praticar intolerância religiosa. O que vemos é que os "espíritas", com medo, mais uma vez, de assumir a responsabilidade de seus maus atos e de suas decisões erradas, e sofrendo uma crise aguda por conta de suas próprias contradições, investem mais uma vez no vitimismo e usam o pretexto da "intolerância religiosa" para salvarem suas peles.

Os "espíritas" chegam a falar, de maneira bastante hipócrita, que as deturpações feitas por Chico e Divaldo foram "acidentais" e feitas "sem querer". Chegam mesmo a dizer que eles "não tiveram tempo" para analisar a Doutrina Espírita e atribuem a eles uma suposta promessa de "aprender melhor a obra de Kardec" e a inventar que essa "promessa" foi cumprida. Só que não.

Os dois foram igrejistas até o fim. Transmitiram ideias roustanguistas durante décadas, com uma grande coleção de livros, para um enorme público no Brasil e no mundo e repercutindo de forma imensa durante muito tempo. Como é que eles podem ter feito um trabalho "sem querer"? Isso é coisa que se faz com muita consciência dos próprios atos, dificilmente alguém faria isso "sem querer".

Mas o "espiritismo" é assim mesmo. Faz juízos de valor, quando o caso é o sofrimento alheio, frequentemente induzindo na culpabilidade das vítimas, sob alegações de "reajustes espirituais" ou "resgates morais". Mas na hora de assumir seus erros, recua, reage com vitimismo e choradeira, arruma mil desculpas, acusa os obsessores espirituais, baixa a cabeça pondo as mãos no rosto, ou apela para coisas do tipo "aceito resignado os desaforos, crente no amparo de Deus".

Isso é uma grande hipocrisia. O "espiritismo" não é livre porque põe suas contradições sob o tapete, se dissimula o tempo todo, portanto não pode ter sequer a consciência tranquila. Reclama de "intolerância religiosa" só para abafar os efeitos de sua grave crise, mas sabemos que isso é uma mentira.

Afinal, quem sofre intolerância religiosa são os movimentos e crenças vividos pelas classes populares ou por grupos étnicos que não correspondem às classes privilegiadas. A umbanda, o candomblé, o islamismo e o judaísmo são as religiões mais vitimadas pela intolerância religiosa.

Já o "espiritismo" é uma religião de elite. Em muitos momentos, está ao lado de setores conservadores da Igreja Católica e das seitas neopentecostais (como a Igreja Universal do Reino de Deus e a Assembleia de Deus). 

O "espiritismo" defendeu o golpe militar de 1964 e a consequente ditadura, participando da Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Chico Xavier defendeu a ditadura quando parte da direita que a apoiou já estava na oposição. As ideias defendidas pelos "espíritas" são de conteúdo moral severo e ultraconservador, justificados pelas "cobranças morais" de supostas encarnações passadas.

As práticas de caridade "espíritas", tidas como "assistência social", não vão além dos limites do Assistencialismo, caridade de poucos efeitos sociais e que enfatiza mais o prestígio social do "benfeitor". O "espiritismo" se diz progressista, mas nunca contribuiu para o progresso do Brasil, e sua "caridade" apenas amenizou a dor da miséria, sem combatê-la de maneira profunda e definitiva.

A verdade é que o "espiritismo", se assumir sua liberdade religiosa, teria voltado ao Catolicismo, porque sua liberdade é adotar ritos, crenças e dogmas católicos, dos mais conservadores, e fazem isso de forma explícita, desavergonhada, porém nunca devidamente assumida. Os "espíritas" deveriam parar de criticar a vaticanização e o roustanguismo, porque os apelos igrejistas fazem seus corações baterem mais forte.

O "espiritismo" brasileiro é apenas espírita na forma, na aparência institucional. Mas seu espírito é católico, sua essência é católica e suas bases doutrinárias igrejistas. O "espiritismo" brasileiro é roustanguista da gema.

domingo, 2 de abril de 2017

Teologia do Sofrimento: o golpe no "Espiritismo" brasileiro

Uma coisa a notar em textos e palestras recentes no "Espiritismo" brasileiro é o aumento de textos que evocam a medieval e sadomasoquista Teologia do Sofrimento, delírio que sugere que o sofrimento, por mais torturante que seja, é o caminho mais fácil para a prosperidade. o que a lógica comprova como uma falácia.

O "Espiritismo" brasileiro se tornou uma site igrejeira que segue o Catolicismo medieval e importou muitos de seus dogmas, estranhos a doutrina original codificada por Allan Kardec. A Teologia do Sofrimento é um destes dogmas e nem mesmo o segmento mais conservador do Catolicismo atual quer mais saber dessa teologia estranha que no fundo diz que sofrer é muito bom.

Ele resulta da má interpretação do sofrimento de Jesus, que na verdade teve motivação política. Acreditam os defensores deste teologia que Jesus aceitou sofrer para "expurgar" o mal da humanidade, numa atitude que desafia qualquer tipo de lógica. Não faz sentido uma pessoa sofrer para salvar a humanidade. Uma verdadeira prova de que cristãos normalmente não são muito racionais.

Para os defensores desta teologia sadomasoquista, o sofrimento é visto como uma espécie de "faxina espiritual" que pretende "eliminar" as impurezas através da dor. Se esquecem os defensores que não é o sofrimento que acelera a evolução, mas a tentativa de sair deste sofrimento. Ninguém vai de uma hora para outra atingir a prosperidade após ser totalmente lascado através de um ato de tortura.

A adoção da Teologia do Sofrimento é um golpe contra a doutrina e na verdade sinaliza uma adesão ao governo golpista de Michel Temer, que pretende impor mazelas a população para garantir os privilégios dos mais ricos. É na verdade um ato irresponsável que mostra que a doutrina vem sido controlada por um bando de caras-de-pau, interessados em salvar a sua pele estragando a dos outros.

A escolha pela Teologia do Sofrimento vai custar muito caro ao "Espiritismo" brasileiro, que vem perdendo credibilidade após a relevação de que muitos de seus dogmas são absurdos ou contraditórios. 

As lideranças "espíritas" brasileiras dão tiro no pé e contribuem para a extinção da seita que ingênuos pensavam ser a mais avançada, acreditando tolamente que toda a humanidade seria devota do charlatão Chico Xavier, o beato que agou como um vândalo, destruindo totalmente o que deveria ser o Espiritismo.

domingo, 22 de janeiro de 2017

Noção de "bondade espírita" serve mais para comover as massas do que ajudar as pessoas

Não perceberam que os adeptos de Francisco Cândido Xavier, quando falam de "sua missão de bondade, caridade e fraternidade", recorrem sempre à falácia do apelo à emoção, sem trazer uma visão objetiva da coisa?

Essa argumentação viciada de uma "bondade" que mais parece fantasia do que realidade - embora, no Brasil, a fé religiosa sempre se empenhe para exercer, senão o monopólio, pelo menos a hegemonia sobre a realidade - nem de longe serve para valorizar a verdadeira ajuda ao próximo, mas apenas a cultuar a "bondade" quando ela é associada a uma instituição ou a um ídolo religioso.

Trata-se de uma "bondade" que os especialistas definem como "assistencialismo" ou "caridade paliativa". Uma "caridade" que só serve para deslumbrar e arrancar comoção das plateias, algo que mais parece um espetáculo do que realmente um ato de amor ao próximo. Uma "caridade" cujos resultados são duvidosos ou imprecisos, embora por trás deles haja também a triste realidade de uma pretensa filantropia que pouco ajuda os necessitados e favorece mais a projeção pessoal do "benfeitor".

Observa-se que a "caridade" de Chico Xavier sempre é defendida diante de argumentos vagos. "Ele vendeu muitos livros, mas não ficou com um tostão". "Ele ajudou muita gente". "Sua vida foi puro ato de amor". Declarações subjetivas, falácias emocionais, típicas da beatitude religiosa, mas que nunca trazem alguma informação concreta ou um dado objetivo a respeito dessa "caridade".

Quantas pessoas foram ajudadas por Chico Xavier? "Sei lá, muita gente. Só isso já é maravilhoso", diria um típico midiota de "crença espírita". Divaldo Franco apresenta dados "mais objetivos", mas aí entra a decepção: sua Mansão do Caminho, em 65 anos de existência, não conseguiu ajudar um por cento da população brasileira. Foi uma "caridade" cujo maior beneficiado foi o próprio "benfeitor" Divaldo Franco, famoso por seus discursos verborrágicos.

A "caridade" desses "médiuns" é tão inexpressiva que o resultado é aquém até mesmo da reputação que eles têm. Cidades "protegidas" por suas "energias elevadas", como Uberaba e o bairro de Pau da Lima, em Salvador, são marcadas por pobreza imensa e violência em graus preocupantes. Se a "bondade" de Chico Xavier e Divaldo Franco tivesse realmente fazendo sentido (e resultado), esses lugares seriam de notável prosperidade social. Mas ocorre o extremo oposto, e não é por desprezo a esses ídolos religiosos, tão cultuados nesses lugares.

Daí que não dá para usar o argumento da "bondade" para legitimar os deturpadores da Doutrina Espírita. Essa "bondade" mais parece marketing e serve de gancho perigoso para legitimar a deturpação. O fato de distorcer e empastelar o trabalhoso legado de Allan Kardec já é crueldade suficiente para que se use a desculpa de que os pretensos médiuns valham pela "bondade".

A teimosia dos "espíritas" tradicionais

Fica aqui a impressão de que nosso trabalho de coerência doutrinária é em vão. mesmo com alto nível de apostasia, há seguidores de Chico ...