sábado, 19 de novembro de 2016

O homem do carro e a criança ingênua


Um homem está no carro observando uma mãe e um filho andando numa rua de uma grande cidade. Uma criança pequena lhe chama a atenção, um menino pequeno, com menos de 10 anos de idade, peralta e que adora correr solto. Em muitos casos, a mãe precisa gritar para o filho voltar para perto dela.

Vendo essa moleza toda, o homem fica apenas de olho. Quando a criança está a uns poucos metros do automóvel, numa calçada com um movimento normal de pessoas indo e vindo numa área urbana, o homem se aproximou do menino.

- Posso lhe falar uma coisa? Senti simpatia por você. - diz o homem, forjando um ar paternal.

- Sim, moço? - pergunta o menino, de um jeito ao mesmo tempo risonho e despreocupado.

- Isso me lembra o caso de um menino que virou um grande homem. Sabe como um menino lindo como você pode se tornar um bom homem?

- Não, tio! Me diz, me diz!

- Era uma vez um lindo menino, carinha de anjo, pode ser louro ou moreno, mas era doce como um anjinho!

- Puxa vida, e como era esse menino?

- Igualzinho a você! Um menino peralta, inquieto, mas boa, boa gente! Um menino que corre solto, que é livre, gosta de viver!

- Nossa! E esse menino o que é que tem?

- Tem muito futuro! Ele um dia ganhou uma nova oportunidade da vida, que lhe trará boas coisas, como um presente de Natal.

- E o que são essas coisas boas, meu tio?

- Você quer mesmo saber? Você está pronto para isso?

- Sim, tio, me conta! Me conta! Eu quero saber!

- Você quer que titio conte o resto da história? É uma coisa muito, muito linda!

- Nossa, tio, é lindo, sim! Eu quero ouvir! Me conta!

- Titio não tem tempo! Titio precisa ir, mas se você quiser eu te dou uma carona e conto todo o resto da história no caminho! Mas você tem que ir comigo para saber o final, que é muito lindo, viu?

- Sim, tio! É lindo, é lindo. Mas...

- Ah, tá esperando sua mãe? Não se preocupe, eu te levo comigo e depois ligo para ela te buscar!

Antes que o menino respondesse, a mãe chegou e, preocupada, correu para pegar o menino pela mão. Friamente, se dirigiu ao homem para dizer, friamente: "Com licença!".

O homem teve que se resignar. Não podia reagir, diante do movimento das pessoas e com alguns policiais provavelmente por perto.

O menino escapou de ser sequestrado. Aquele homem do carro era um sequestrador.

Troque os nomes. O sequestrador pelo ídolo religioso, um mistificador "espírita". O menino por uma pessoa qualquer. A mãe por um alguém mais esclarecedor, uma pessoa que quer avisar outrem de armadilhas mais engenhosas. E a "história" do menino que vira um grande homem pela de um cidadão ordinário que vira "espírito de luz".

Você seria capaz de cair nas armadilhas da fé cega por causa de relatos lindos de pessoas ordinárias que se transformam em "almas puras"? Você abriria mão de sua vida comum em prol do balé de palavras lindas e atraentes?

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Como os "espíritas" se safam deturpando Allan Kardec

Existe uma prática muito conhecida no Brasil, chamada "jeitinho brasileiro". Trata-se de uma forma de obter vantagem não só de maneira fácil, mas também procurando evitar as consequências naturais de uma atitude considerada inconveniente, ilícita ou prejudicial a alguém.

Com o "jeitinho brasileiro", o picareta ou o algoz de ocasião procura se proteger manipulando as circunstâncias, sobretudo quando tenta obter o respaldo das leis e o apoio popular, mesmo quando nenhum mérito lhe assegure tais benefícios.

Com o "jeitinho brasileiro", se permitem aberrações diversas que se tornam socialmente aceitas. A corrupção feita por políticos conservadores, como os que reconquistaram o poder por intermédio de Michel Temer e Eduardo Cunha, chega a ser aceita pela chamada "boa sociedade", aquela que se arroga em ter "as melhores qualidades morais" e pensar "no progresso humano dos brasileiros". 

O senador Romero Jucá, por exemplo, foi revelado estar planejando uma manobra para manter impune um terrível e assustador esquema de corrupção, em conversas gravadas por um ex-senador e ex-presidente de uma subsidiária da Petrobras. Meses depois, ele será um dos líderes do governo Michel Temer e a mídia o promove como se fosse um "político responsável e honesto".

O Brasil acoberta a corrupção e as fraudes de forma surpreendente, e hoje a suposta "normalidade institucional" é, na verdade, uma deterioração institucional sem precedentes na história do país. Se em outros momentos os poderes Executivo, Legislativo, Judiciário e midiático (o tal "quarto poder") demonstraram casos de corrupção, como o apoio do Supremo Tribunal Federal e da Rede Globo ao golpe militar de 1964 já autorizado pelo Congresso Nacional, hoje a coisa atingiu níveis deploráveis.

A corrupção atinge até mesmo as religiões. E da forma como se menos imagina. No "espiritismo", cuja blindagem, sobretudo na mídia e nos meios jurídicos, recebe a impunidade plena comparável ao do PSDB, há um grande artifício que faz com que os deturpadores se passem por "espíritas autênticos".

Trata-se de deturpar o legado de Allan Kardec a partir de traduções igrejeiras de suas obras. As principais são as da própria Federação "Espírita" Brasileira, da pessoa de Guillon Ribeiro, e da editora IDE (Instituto de Divulgação "Espírita"), de parte de Salvador Gentile. A FEB já está lançando obras de Kardec com outro tradutor, mostrando como é fácil manipular o texto de Kardec, cheio de muitos tradutores.

Todavia, só a tradução feita ou coordenada por José Herculano Pires (sobrinho do artista caipira Cornélio Pires) - a tradução de O Que É o Espiritismo? por Wallace Leal Rodrigues segue essa linha - correspondem ao texto original do Codificador, procurando se aproximar da honestidade doutrinária das palavras originais.

A manipulação do texto de Kardec ao sabor dos deturpadores da Doutrina Espírita cria algo que se compara a uma equação matemática no qual a primeira conta é feita errada. É como um caminho bem percorrido mas originado de uma partida equivocada, de uma largada errada.

Diante de traduções deturpadas da obra de Kardec, os "espíritas" lançaram a senha para seu "bom espiritismo". Com o pedagogo francês reduzido a um igrejista, pode-se desenvolver "honestamente" o "espiritismo" brasileiro através de lições de "amor e fraternidade" trazidas através dos "textos de Allan Kardec".

Com isso, responsabilizam um suposto Allan Kardec pelas ideias igrejeiras, pelo religiosismo exacerbado e por um falso cientificismo trazido por traduções tendenciosas. A manobra permite que os deturpadores do Espiritismo no Brasil possam atribuir ao Codificador ideias que o pedagogo, em verdade, nunca aprovaria e nem teria coragem de conceber.

Por isso, os "espíritas" podem até brincar com as palavras de Erasto, São Luís e outros espíritos que fizeram alerta sobre a própria deturpação espírita. Como um assaltante que pratica um roubo e depois liga para a polícia dizendo que ocorreu um assalto, os deturpadores da Doutrina Espírita usam os denunciadores dessa deturpação para favorecer e legitimar a própria deturpação.

É uma fraude muito bem construída que criou o "crime perfeito" do "movimento espírita", que se desenvolve como um balé de palavras bonitas e um artifício da caridade paliativa, uma "filantropia" que mais encanta as pessoas do que realmente ajuda. Os assustadores índices de violência em Uberaba, reduto de Chico Xavier, e o bairro de Pau da Lima em Salvador, reduto de Divaldo Franco, mostram que essa "caridade" não passa de conversa para boi dormir.

A teimosia dos "espíritas" tradicionais

Fica aqui a impressão de que nosso trabalho de coerência doutrinária é em vão. mesmo com alto nível de apostasia, há seguidores de Chico ...