terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Só um mercado literário como o Brasil para livros como 'Data-Limite' fazerem sucesso

Só mesmo um mercado de livros como o do Brasil para que livros como Data-Limite Segundo Chico Xavier, de Juliano Pozati e Rebeca Casagrande, baseado no documentário homônimo de Fábio Medeiros do qual a dupla participou da co-produção, possam fazer sucesso.

É um mercado risível em que prevalecem livros religiosos, humor besteirol sem graça, auto-ajuda, aventuras supérfluas que mostram que as pessoas preferem enfrentar vampiros e bonecos de Minecraft do que encarar a realidade e tudo o mais.

É uma grande gafe ver que, entre os livros de não-ficção, livros para colorir (!) apareçam na lista dos mais vendidos. É um mercado literário ridículo, porque não há o compromisso com o conhecimento, é uma literatura analgésica que predomina entre os títulos mais vendidos. Fora as aventuras que mostram que os leitores só querem vencer os inimigos de ficção do que os problemas reais.

Que as pessoas procurem um entretenimento para relaxar, ainda vai. Mas isso vai além da conta e ocorre em prejuízo com a obtenção de conhecimento. Não se lê para conhecer e saber mais, mas para adoçar a alma, e é aí que livros mistificadores sobre Francisco Cândido Xavier encontram terreno fértil.

Pelo menos por enquanto o livro não está na lista dos mais vendidos. Mas o sucesso se observa quando estoques de livros diminuem com relativa rapidez. Num dia, uma pilha de vinte exemplares já resultava em dez em uma livraria no Grande Rio.

É triste saber que as pessoas querem tanto mistificação. O livro Data-Limite Segundo Chico Xavier, além de ser derivado de um documentário - um engodo de mitos e dogmas igrejistas e pseudocientíficos - , é um apanhado de inverdades e divagações desnecessárias, além de toda a exaltação dos deturpadores (como Chico Xavier e Divaldo Franco) e um puxa-saquismo gosmento em torno de Allan Kardec.

O livro tem 350 páginas, mas na verdade poderia ter tido apenas 110. Ou menos, se tirar o puxa-saquismo a Kardec, as posturas pseudocientíficas e uma enrolação psicológico-religiosa em torno do "ser" e do "estar", que ocupa um capítulo inteiro!

Há muitas mentiras nesse livro. A de que Humberto de Campos confirmou a "mediunidade" de Chico Xavier (o autor maranhense apenas disse que os poemas "espirituais" eram parecidos com os que os autores alegados haviam deixado em vida) e a de que Chico Xavier teria previsto água na Lua (nem em sonhos: a hipótese, ainda que durante anos rejeitada por cientistas, era estudada há muito tempo).

E tem a pseudosabedoria de Divaldo Franco e a infantil e pretensiosa adoração de Juliano Pozati pela "ciência" e por O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec. A gente até pensa se Juliano Pozati realmente leu o livro com atenção, já que muitos dos ensinamentos contidos no citado livro de Kardec desmascaram explicitamente a farsa de Chico Xavier.

Allan Kardec reprovaria até mesmo a fixação de datas para transformações da humanidade. "É indício de mistificação", disse o professor, de maneira bastante clara. O recreio de Chico Xavier e Divaldo Franco seria encerrado com as advertências do professor.

Aliás, só o fato de Data-Limite Segundo Chico Xavier ser um livro ANTI-KARDECIANO deveria ser um alerta para as pessoas não adquirirem esse livro, cheio de inverdades e misticismos baratos, além de supostas previsões sem pé nem cabeça. Se as pessoas forem menos vulneráveis às armadilhas da emoção, não seriam vulneráveis às tentações da fé e do deslumbramento e se afastariam sem medo desse engodo igrejista e pseudocientífico.

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