quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Chico Xavier queria que ETs substituíssem "velho mundo" para recuperação da humanidade

A pretensa profecia da "data-limite", de Francisco Cândido Xavier, que fascina muitos brasileiros ainda seduzidos pela imagem "bondosa" do suposto médium e entorpecidas pelas delirantes idealizações que se faz dele, é na verdade um monte de absurdos.

Amontoados no livro Não Será em 2012, de Geraldo Lemos Neto e Marlene Nobre (esta já falecida) e no documentário Data-Limite Segundo Chico Xavier, as predições do anti-médium mineiro dadas a Geraldo em 1969, baseadas num sonho que Xavier teve após a chegada de uma tripulação da NASA à Lua, em 20 de julho daquele ano, os dados revelam-se absurdos numa análise mais cautelosa.

As predições - porque suposta e falsamente proféticas - de Chico Xavier são trabalhadas como se fossem relatos científicos, e analisados como se fossem dados de cunho geológico, sociológico, geográfico e antropológico, embora no final a "revelação" se mostrasse não mais do que um apelo religioso, uma propaganda tendenciosa do "movimento espírita".

Entre tantos absurdos que contrariam as realidades geológicas e sociológicas do mundo - como supor que os povos eslavos iriam migrar para o calorento Nordeste, o que causaria choque térmico entre os migrantes, que se sentiriam melhor se migrassem para o interior do Paraná ou Santa Catarina -  as "profecias" de Chico Xavier chamam a atenção pela tese de "destruição" do "velho mundo", devido a conflitos bélicos e catástrofes naturais.

A ignorância de Chico Xavier é tanta que ele supôs que norte-americanos, que normalmente iriam migrar para o eixo Rio-São Paulo no caso da destruição de seu país, iriam povoar o Norte brasileiro, ou que o Chile, integrante do mesmo Círculo de Fogo do Pacífico, zona de intensa atividade vulcânica e sísmica que inclui a Califórnia (EUA) e o Japão, seria poupado se caso houvesse destruição na América do Norte e na Ásia por "vulcões furiosos".

O que torna risível é que, para compensar o fim do "velho mundo", Chico Xavier alegava que o mundo remanescente - "coincidentemente" países majoritariamente religiosos, como o Brasil - iria receber missões de extraterrestres vindos de sociedades avançadas que trariam valores e conhecimentos que ajudariam na recuperação da humanidade.

A estória da destruição do "velho mundo", sonhada pelo católico Chico Xavier, remete à evocação de uma outra decadência, o fim da Antiguidade clássica trazida pela transformação do Império Romano em uma teocracia, com os últimos séculos do Império Romano do Ocidente e a ascensão do Império Romano do Oriente (depois Império Bizantino) que inaugurariam o período obscurantista chamado Idade Média.

A Antiguidade Clássica foi marcada de uma intensa proliferação de expressões artísticas, intelectuais, filosóficas e científicas que realizaram significativos avanços em humanidades embrutecidas, o que fez eliminar muitas das injustiças ou ao menos lançar questões profundas no âmbito do conhecimento. Mesmo mantendo sistemas escravistas e métodos bélicos de conquistas e dominação, a Antiguidade Clássica foi marcada por muitos avanços legislativos e diversos progressos sociais.

Com a Idade Média e a ascensão do Catolicismo, o caminho do progresso foi interrompido por cerca de mil anos, sendo o caminho só dificilmente retomado a partir do século XV. O Brasil, como nação, se estabeleceu no século XVI a partir de expedições de exploração, e demorou muito para que sua estrutura sociológica tivesse um mínimo de desenvolvimento humano. Em pleno alvorecer da Revolução Industrial e já na ascensão do pensamento socialista, por exemplo, a nação brasileira ainda teimava em manter o trabalho escravo, como "necessária" para o desenvolvimento econômico.

O "sonho" de Chico Xavier, que atribuiu para 2019 o "limite" para o "velho mundo" se "comportar direito" diante da humanidade da Terra, e que delirantemente atribuía as catástrofes naturais uma reação da "Mãe Natureza" (espécie de alter ego "científico" do Deus católico sob interpretação "espírita") ao terrorismo e às operações de guerra das nações da OTAN (Organização Tratato do Atlântico Norte), tem como objetivo transformar o Brasil num novo Império Bizantino.

Isso porque a catástrofe "prevista" por Chico Xavier eliminaria nações com elevado grau de desenvolvimento intelectual, sócio-cultural e científico, do qual apenas há réplicas relativas nas sociedades remanescentes, como cópias de documentos e produtos culturais reproduzidos nas nações do Hemisfério Sul. No entanto, a catástrofe eliminaria uma série de artistas, intelectuais e cientistas comprometidos com o desenvolvimento do mundo, enquanto sobrariam regiões em que a mediocrização cultural é fator dominante e determinante de atraso e retrocesso social.

O fim do "velho mundo", segundo o sonho dormido por Xavier, seria compensado com chegada de naves espaciais que trariam membros de sociedades avançadas para ensinar valores de "solidariedade" e "desenvolvimento moral e intelectual". Eles estabeleceriam, segundo Xavier, um projeto de recuperação da sociedade abalada pelas catástrofes que dizimariam os "irmãos do Norte".

Só que a tese do mundo desnorteado - em todos os sentidos - contradiz a realidade que ocorre em nossos dias. Os focos de terrorismo não necessariamente são os da Europa e EUA, mas apenas uma parte do "velho mundo", como o Oriente Médio, que vai do Norte da África até o Centro da Ásia. É certo que existem focos de violência e vandalismo nos EUA, França, Espanha e Itália, mas não da forma como sugere o "sonho" de Chico Xavier.

Por outro lado, as migrações que chegam ao Brasil não são de povos europeus e estadunidenses, mas em maioria de haitianos, cubanos e parte dos refugiados que deixam nações em guerras como Sudão, Iraque, Síria, Egito e Nigéria. Mas essas populações partem também para países europeus, em especial a Itália e outros países do Mediterrâneo,

Enquanto isso, catástrofes naturais começam a acontecer no Brasil. Ciclones extra-tropicais foram vistos até em Nova Iguaçu e Campo Grande, no Estado do Rio de Janeiro, e em Florianópolis, Santa Catarina. Cidades do interior no Sul e Sudeste são cenários de tornados. Terremotos são notados em cidades do Mato Grosso, Minas Gerais e Estados do Nordeste. Algo impensado no sonho de Xavier que imaginava o Brasil como um semi-paraíso.

Estamos próximos a 2019 e a realidade já desmentiu o sonho de Chico Xavier. O Brasil em intensa crise de valores e fortes tensões sociais - houve vestígio de um movimento neo-nazista inspirado na Klu Klux Klan sendo anunciado em Niterói - , além da forte crise econômica causada justamente pela euforia dos grandes eventos trazidas com o "penta" da Copa de 2002 (o "dia feliz" que culminou com o "óbito sereno" do anti-médium), impedem que o Brasil assuma a tão sonhada posição de destaque no planeta. O "velho mundo", experiente, mesmo com uma Grécia à beira da falência, ainda pode se reinventar e se reavaliar. O Brasil é que precisa aprender muito com os retrocessos que hoje enfrenta.

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